O mundo não é dos espertos


Nadja Tavares

O mundo não é dos espertos, dos malandrões, dos cruéis. Eles podem até ter o poder, ou estar no poder, mas são minoria. E de nada adianta me amedrontar, recheando os jornais com notícias de tanta violência e desesperança. Os golpes, chacinas, espertezas e maldades sempre existiram desde que o mundo é mundo.

Eu gostaria de falar mesmo é sobre as pessoas boas. Isso mesmo. Essa gente de coração grande que ajuda, apoia, incentiva. Alguém da nossa família, um vizinho, um amigo. Ou alguém que nem sequer conhecemos, nem nunca vamos conhecer. Por que também tem isso. As pessoas boas são tantas nesse mundo, que nem chegamos a conhecê-las todas. Mas elas estão espalhadas por aí. Formam um exército silencioso que defende a ética, a solidariedade, a amizade e nos fazem acreditar que vale a pena estar aqui.

Os mais céticos dirão que esse é um modo que arranjei para amenizar essa situação de descontrole que não só a nossa sociedade, mas todo o planeta vive. Que seja! O fundamental é que não desacredito da raça humana. Por tudo e apesar de tudo. Não vou cansar de dizer o quanto existe de graça, bondade e gente decente por aí. Nas esquinas, ruas, vielas, favelas e mansões também. Porque bondade não tem nada a ver com condição econômica, raça, religião ou quaisquer outras classificações externas. Tá na alma e, portanto, foge a qualquer tentativa fria de explicação.

Quem nunca esteve em contato com uma pessoa assim na vida? Quem nunca, numa hora de extrema necessidade, encontrou uma dessas “almas caridosas” no caminho? Por isso não me comovo tanto com as desgraças que vejo nos noticiários, mas com a solidariedade que chega depois da desgraça. Fico imensamente triste vendo alguém que perdeu tudo numa enchente. Mas só choro mesmo ao ver um coração bom chegar com roupa e alimento para ajudar, para amenizar o sofrimento da criatura necessitada. Por isso me dá vontade de chorar toda vez que escuto a sirene de uma ambulância e, no meio do trânsito mais louco, vejo os carros abrindo passagem, parando, buzinando. Todos mobilizados para deixar aquela ambulância passar o mais rápido possível para aquela pessoa lá dentro receber socorro.

A solidariedade, assim como a agressividade, faz parte da espécie humana. O problema é que não chama tanto a atenção, porque é discreta, silenciosa, não fica registrada nos boletins de ocorrência das delegacias. É uma chama que sei que ainda arde nesses tempos de amargura e medo. E nunca vai se apagar. É nisso que acredito, é isso o que me move. De nada adianta me chamarem, ou me xingarem, de romântica, sonhadora, ingênua. Recuso-me a entregar o mundo para os maus, assim, de bandeja. Por que eu faria isso? Por que facilitaria as coisas para eles?

Talvez essa minha atitude não consiga mudar nada concretamente. Talvez eu não possa fazer com que ela atinja uma escala mundial. Não importa. Não vou abandoná-la por isso. Se alguém tem que mudar, que sejam os maus.

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Nadja Tavares

E-mail: nadjatavaresautora@gmail.com

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