Nadja Tavares
Silvana nasceu junto com a irmã. Era gêmea idêntica de Sílvia. A personalidade, porém, não podia ser mais diferente.
Enquanto Sílvia era quieta, introspectiva e organizada, Silvana era expansiva, impulsiva e solar. Não teve filhos e abandonou um relacionamento de anos, quando percebeu que estava em uma prisão e definhava.
Comunicativa, sociável e com gosto pela dança, no casamento se contentava com as festas de família. Quase não tinha vida social, porque o companheiro era caseiro e nem de viagens gostava.
A separação foi um escândalo na família. Jogar uma história fora, por motivos tão fúteis, era o que diziam à boca pequena pelos corredores familiares.
Silvana não se entregou. Começou academia, aprendeu a andar de motocicleta e começou uma faculdade. Vendeu o apartamento enorme e sem utilidade e comprou um pequeno flat à beira-mar. Marítima, passou a ir à praia quase diariamente nadar, correr e caminhar.
Em uma dessas idas, reencontrou velhos amigos que batiam ponto no bar do Galego. Lá virou lugar de encontro da turma. Foi onde conheceu Jonathan, amigo de um amigo.
Gostou do que viu, especialmente das pernas compridas. Mas o que chamou a atenção dela foi o fato de ele não entrar na água. Como alguém chegava perto do mar e não entrava? Um sacrilégio. Tinha certeza de que ele não resistiria ao encanto do mar.
Naquele domingo, quando Silvana chegou na barraca, pediu suco de cajá com bastante gelo, tirou a saída de praia e viu que Jonathan já estava por lá. Ela decidiu pela estratégia de ataque direto. Estendeu a mão, ajeitou o sorriso e disparou:
- Vem, Jonathan! Vem dar um mergulho comigo.
Sentiu a dúvida dele. Mas ele segurou sua mão com força e caminhou vagarosamente até chegar à água. Silvana não sabia a origem daquele receio, mas o seu olhar dizia:
- Vamos, confie em mim.
Jonathan deve ter entendido a mensagem, pois se deixou conduzir até depois da linha em que as ondas quebravam, onde tudo era calmaria e tepidez.
Dava para ver a surpresa, a alegria, o prazer dele em ter chegado até ali. Soltou a mão dela e mergulhou. Quando voltou à tona, Silvana estava bem perto, sorrindo com a alegria dele. O beijo veio com gosto de sal.