Nadja Tavares
Certa vez, um motorista de aplicativo tentou me convencer de que o motorista também se sente inseguro, mesmo a passageira sendo mulher. Eu tentei argumentar que o medo dele era diferente do medo feminino. E que ele não iria entender, pois nunca teria a sensação de uma presa diante de um predador, assim como nós temos. Infelizmente, uma sensação familiar demais, no cotidiano feminino.
Era uma manhã tranquila. Havia acabado de sair do restaurante onde sempre almoço, próximo ao trabalho. O local tem uma comida caseira deliciosa, em especial o bobó de camarão, feito com leite de coco. E o pastelzinho de banana. Ah! Esse, além de gostoso, me traz a memória afetiva da minha avó, que sempre fazia doce de banana para mim.
O restaurante fica somente a uma esquina da avenida principal, uma das mais movimentadas da cidade, que liga a praia ao centro. Movimento intenso de carros e pedestres. Virei a esquina e entrei na avenida, caminhando em direção ao ponto de ônibus logo mais à frente. Foi aí que comecei a escutar alguém falando alto e xingando, um pouco atrás de mim. Eram palavrões, creio eu. Olhei para trás e vi um homem gritando palavras de baixo calão. “Ai, ai” ‒ pensei ‒ “algum desequilibrado mental”. E continuei caminhando. Passei por dois garis. Varriam a calçada e olhavam para mim sem que eu compreendesse o motivo. Depois entendi. O homem continuava os xingamentos direcionados a mim. Apressei o passo e cheguei ao ponto de ônibus, onde havia quatro homens. “Aqui estarei segura. Um daqueles homens certamente dará um passa-fora nesse maluco” ‒ imaginei.
A criatura que me perseguia, um homem alto e forte, não se intimidou. Aproximou-se e continuou me chamando de coisas horríveis, olhando diretamente para mim. Me afastei mais para dentro do ponto de ônibus. E diante do silêncio daqueles quatro homens, só pedi a Deus: “Senhor, me proteja!” Deus deve ter tido compaixão, porque o louco resolveu sair dali e continuou a caminhada.
Assim que ele se afastou, um dos quatro homens que estavam esperando ônibus, decidiu se dirigir a mim:
‒ Esse maluco é conhecido. É de outro bairro e odeia mulher. Não sei como ele veio parar aqui. Deve ter ficado assim porque levou gaia de alguma.
‒ Engraçado que ele não faz isso com homem ‒ eu disse, embora estivesse tremendo toda e com uma imensa vontade de chorar,
‒ Não se fie nele, não. Agora, se ele tivesse partido pra cima da senhora eu tinha pulado em cima dele.
Os outros três homens não deram uma palavra. Acenei para o primeiro ônibus que passou. Queria sair dali, rapidamente, para me acalmar e aprender mais uma lição de sobrevivência nesta selva hostil que é o mundo para as mulheres.